O dito pelo não dito

Eu sou todas as palavras que você não vai ler
Você é todas as sensações que eu não sei sentir
Eu sou aquele poema que você não vai entender
Você é o silêncio que eu aprendi a ouvir
Eu sou o ímpeto súbito que de repente quer tudo
Você é o depois que eu não sei esperar
Eu sou o lado "B" do disco que no fim fica mudo
Você é o lado "A" prestes a recomeçar.

"Era uma casa muito engraçada"

  Hoje ela reclamou da chuva na janela. Não tem um dia que não vê problema. Quando não é o aperto da sala de estar ou a bagunça da cozinha, é o barulho do vizinho de cima que não a deixa dormir. 

Ontem ela reclamou do cansaço, disse que as escadas lhe doem as juntas dos joelhos. Reclamou que de dia fica tudo muito escuro, de noite a luz não apaga e que as vezes se sente tão sozinha que tem vontade de gritar. 

  Semana passada ela reclamou de um quartinho vazio, vê se pode! Disse que lá só guarda poeira.

"E por quê não compra mobílias?" perguntei a ela. Disse que a chave já nem lembra onde guardou e que na verdade nem saberia o que por lá dentro. 

Estou esperando pra ver amanhã do que ela reclamará... Até entendo sua situação, as vezes, deve ser mesmo difícil morar dentro de mim.

Assombra

Tua sombra gruda em mim
Como se fosse do corpo meu
E não importa de onde vem luz
Reflete em mim aquilo que é seu
Se a luz vem de algum dos lados
Ela se lança para as laterais
E para qualquer direção que eu olhe
Vejo em todo canto teus sinais
Se é de frente então que a luz vem
Para trás ela se arremessa
Deixando o rastro de uma história
Deixando o rastro de uma promessa
Se vem luz  de outro lugar
Se vem luz  então de trás
Ela se forma em minha frente
Dizendo "Nem em 1000 anos te deixo em paz"
E quando a luz que vem de cima
Ilumina os passos meus
Nenhum passo ali é dado
Sem que sigam também os seus